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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Recordando António Ramos Rosa (17.10.1924 - 23.09.2013)

Partiu hoje o grande Poeta , natural de Faro, António Ramos Rosa.
Estamos todos mais pobres.
Foi um dos mais importantes poetas da literatura portuguesa .
E um dos impulsionadores do movimento Poesia 61 , tendo ganho o prémio Pessoa 1988.
Mais informação aqui.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Árvore de Mia Couto


Árvore


cego
de ser raiz

imóvel
de me ascender caule

múltiplo
de ser folha

aprendo
a ser  árvore
enquanto
iludo a morte
na folha tombada do tempo

               Mia Couto, Raiz de Orvalho e Outros Poemas, Março 1985

terça-feira, 28 de maio de 2013

Mia Couto vence Prémio Camões 2013

  Identidade

  Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"



O escritor moçambicano, Mia Couto, ganhou a 25ª edição do prémio Camões, que distingue um autor de língua portuguesa.
É um dos autores que leio com maior prazer, porque em cada livro, Mia Couto, reinventa a língua portuguesa, tornando-a ainda mais viva.
O prémio Camões foi criado em 1988 por Portugal e pelo Brasil para distinguir autores de língua portuguesa que pelo valor da sua obra tenham contribuido para o enriquecimento da língua comum.


Lista dos distinguidos com o Prémio Camões:

1989 Miguel Torga, Portugal
1990 João Cabral de Melo Neto, Brasil
1991 José Craveirinha, Moçambique
1992 Vergílio Ferreira, Portugal
1993 Rachel Queiroz, Brasil
1994 Jorge Amado, Brasil
1995 José Saramago, Portugal
1996 Eduardo Lourenço, Portugal
1997 Pepetela, Angola
1998 António Cândido de Mello e Sousa, Brasil
1999 Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal
2000 Autran Dourado, Brasil
2001 Eugénio de Andrade, Portugal
2002 Maria Velho da Costa, Portugal
2003 Rubem Fonseca, Brasil
2004 Agustina Bessa-Luís, Portugal
2005 Lygia Fagundes Telles, Brasil
2006 José Luandino Vieira, Portugal/Angola
2007 António Lobo Antunes, Portugal
2008 João Ubaldo Ribeiro, Brasil
2009 Arménio Vieira, Cabo Verde
2010 Ferreira Gullar, Brasil
2011 Manuel António Pina, Portugal
2012 Dalton Trevisan, Brasil
2013 Mia Couto, Moçambique


quinta-feira, 21 de março de 2013

Dia Mundial da Poesia






                      PRAIA

Na luz oscilam os múltiplos navios
Caminho ao longo dos oceanos frios

As ondas desenrolam os seus braços
E brancas tombam de bruços

A praia é longa e lisa sob o vento
Saturada de espaços e maresia

E para trás fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.

                Sophia de Mello Breyner Andresen, No Tempo Dividido

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia Internacional da Mulher

                                                         Quadro de Michael e Inessa Garmash



A Mulher

Se é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo
que em espiral circula ao ritmo da origem.

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar.
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Na curva da estrada



Para além da curva da estrada
 
Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ruas de Alcoutim







Ruas de Alcoutim
                                  calçadas com pedras da ribeira
saudosas de aloendros
                                           Por  isso por qualquer greta
brotam plantas vagabundas
                                                   filhas de pai incógnito
nascidas de uma semente desgarrada trazida  pelo vento
dessas que só à noite entregam plenamente ao ar
seu recôndito perfume

                                      Teresa Rita Lopes, O Sul dos meus Sonhos