Amor Nascente
Não caibo no meu peito, de feliz.
Minha alegria irrompe, vem p'ra
fora.
Estou (dizem-me) feita uma senhora.
Bem haja o Criador que assim o quis.
Olha um homem p'ra mim e, se me diz
seja o que for, a minha face cora…
Quinze anos… Pois que mal vos fiz agora,
Minhas duas amigas, que mal fiz,
P'ra serem contra mim, sempre ao contrário:
«Já viram? a Maria do Rosário,
«Tão nova, a namorar, não tem preceito!»
…Quinze anos, tró-ló-ró, que vão à fava:
Trago no peito uma rolinha brava,
Trago um frémito de asa no meu peito…
Emiliano da Costa, Rosairinha
ELES,OS RÚSTICOS
Sol. Domingo. Olha a moça casadeira
Com a sombrinha aberta perluxando:
- Ela, que leva os dias labutando
No campo, hoje detesta a soalheira!
- E ele, com o seu bouquet, essa algibeira
Onde está o lencinho esvoaçando,
O berloque da libra subornando,
E (sendo analfabeto) a lapiseira!...
Sombra e sol. Vai a rua em duas cores
Ardentíssimas, uma paralela
À outra, faxa azul, faxa amarela…
O sol e a sombra ! Afogueando amores,
Apesar da caneta e dos flavores
Da libra, a sombra é ele, o sol é Ela!
Emiliano da Costa, Rosairinha
Augusto Emiliano da Costa nasceu em Tavira a 31 de Dezembro de 1884, onde o pai era militar e morreu em Estoi a 01 de Janeiro de 1968, onde vivia.
Nasceu poeta e fez-se médico.
Emiliano da Costa é um puro algarvio, apaixonado da luz, da cor, do sol, da terra, do mar e da paisagem.
Ao poeta da vida e da reflexão não passava despercebida a maneira de ser e sentir do povo da sua terra.
As suas obras principais são: Helianthos, Phlogistos, Rosairinha, Elitros, Apontamentos e Intimidades.
Foi tema da tese de Mestrado da Drª. Maria Gabriela Sousa e Silva publicada em livro "O olhar, a escuta e o sentir" em Emiliano da Costa.
Sem comentários:
Enviar um comentário