Ah, quanta
vez, na hora suave
Em que me
esqueço,
Vejo passar
um voo de ave
E me
entristeço!
Porque é
ligeiro, leve, certo
No ar de
amavio ?
Porque vai
sob o céu aberto
Sem um
desvio ?
Porque ter
asas simboliza
A liberdade
Que a vida
nega e a alma precisa ?
Sei que me
invade
Um horror de
me ter que cobre
Como uma
cheia
Meu coração,
e entorna sobre
Minh'alma
alheia
Um desejo,
não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei
quê do voo suave
Dentro em
meu ser
in Poesias
de Fernando Pessoa ( 5-8-1921), Ática
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